segunda-feira, junho 21, 2010

Do descaso/humanista não-praticante

“Avoar por aí no silêncio brando das ruas.
Avoar de manhãzinha antes dos barulhos da cidade
E encontrar gestos singelos em cada pedra ou parede antiga
Que se ache por aí.”

(...)

E pensar que no meio/após do acordar chuvoso do dia
seria difícil cruzar com pequenas coisas, trombar nelas.
No meu seguir desprendido, aconteceu de uma delas me aparecer.
Um par de olhos gentis me avista. Encaro resquícios de bondade humana,
em frestas enrugadas pelo sol a pino da cidade suja. Compaixão, talvez.

-Vá com Deus, minha filha. Ela diz.
E segue adiante com um guarda-chuva espichado,
e as canelas cobertas de veios, e gastas, meladas de lama.

Então fico parada no meio da rua estreita... Parada no meio da pobreza ao redor,
no meio da podridão acesa.
Meu cérebro efervesce querendo pensar em algos,
no entanto apenas meu coração comove  e responde a qualquer estímulo desperto.
E tremo toda, não sabendo porquê. Tremo no meio da chuva e da rua semi-deserta.
Observo um passarinho bebericando a água escoada da bica dum armazém de esquina.
A água é imunda.
Ele bebe mais um pouco e avoa ágil pelo céu cinza, fazendo pouco caso...

‘Você também senhora’, respondo eu,
e avoo pra casa com meus passos lerdos e cheios de preguiças,
avoo com o mesmo sem-cerimônias daquela ave.

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