segunda-feira, outubro 24, 2011

já deveria estar chovendo.

foi o que ela pensou quando levantou da cama. 
aquele começo preguiçoso de rotina,
a tal calma interior contrastando com os ruídos externos da metrópole, 
cada vez mais cinza de concreto e de gente que não sabe que respira.
acordou para nada; 
teve para si que a beleza tem tornado-se algo virtual, impassível de sentidos reais. 
não viu razão para ter acordado. 
tudo carecia de motivos. 

segunda-feira, outubro 03, 2011

enlevo

lembro-me agora. quando dividimos aquela maçã; “a mais doce que já provara”, era o que eu pensava, enquanto mordia e te tinha na penumbra da sala. ali tínhamos pactuado qualquer coisa dentro de nós, sem ao menos saber, como quando te devolvi a maçã para que também pudesse sentir aquele doce na boca que insistia em prolongar-se. não  me atinha o encaixe das coisas, nem o símbolo daquela partilha. penso agora que talvez ela tenha selado um prenúncio de bons tempos... como em celebrações ancestrais em colheitas nos campos de povos distantes. me pego a contorná-los junto a ti, com um vento baixo e uma sombra de macieira aos nossos pés, e à nossa frente, o horizonte emoldurando um pôr-de-sol em macios laranjas a refletir um negro cacho teu.