sábado, julho 09, 2011

Conto

(...)
Ouvi centenas de gatas virgens a gritar. Gatos, gatões com semblantes de 1965. 1.920. E eu me pergunto o que isto significa enquanto ainda me situo numa transconsciência que escorrega pelos meus olhos, superando a memória... Despertei.  O quarto recendia a mil chuvas antigas...  O que fazias, menino-rapaz? Angústias percorrendo todo o meu corpo, desconhecia qualquer pensamento por trás do dele. Sentado de frente para mim, num extremo da cama, sei que me olhava, mas não pude ver, seus contornos tremiam como que dezenas de luzes o ascendesse. Estava a articular, articular... A resposta na voz dele estava limpa. Estava tudo certo. Estavas a me cansar, menino-rapaz? Aqueles códigos que saíam de minha voz não soavam como palavras. E o que farei, alles? As lembranças me aparecem em divinações... Como se nunca tivessem sido.  
(...)
Vontades de pular e dissolver devagar por entre as articulações dele, velozes... Fugazes... Me és tão familiar atrás do translúcido das cortinas. Passaram-se minutos, horas, eu a fitá-lo. E fiquei triste. Imóvel por entre os lençóis, dentro de mim mesma. O cheiro dissipou-se em mornos, e o calor retornou, estralava junto aos membros... Eu andava a articular, menina... Algo em mim chiou, como arranhões de mil gatos, como gemidos dentre madrugadas ancestrais... Deixei-me tomar, e adormeci um sono que temo recordar, suas palavras ainda a ressoar num embotamento de sonhos... 



os sonhos são a libertação e também a prisão da mente