terça-feira, novembro 30, 2010

deus e o diabo (argumento pr'uma tirinha)

~têm me encantado os malogros da vida, senhor.
-é?
~pois como não?!
enfiei-me neste beca vermelha, lustrei os sapatos.
o dia está radiante, radiante! não achas?
-é...
~ah, os malogros... nada como eles. como estou?
-ahm,-
~não, não se aborreça em argumentos!
compreendo totalmente, meu caro.
hoje não é bem o seu dia...
-?
~mas será que não pensaste nunca em mudar esses trapos?
ainda estão esfiapados e manchados de sangue...totalmente out.
-...
~é bom sair a caminhar contigo, sabias?

Conto.

Eles têm me cheirado há bocados de tempos... Carregam a demanda nos olhos, como se me fosse naturalmente cedido o suplício de lhes colocar a água de colônia, e o manto sobre suas cestas. Eu, por entre as pálpebras servilmente acolhedoras, devo demonstrar o gozo em que tal resiliência devota me revolve.

Sei que os busco; não nego. Não deveria ser de ordem parasitária esta relação, penso. Além, não se trata apenas de relações de poder. Estes seres podem transformar-se nos animais que desejarem, e manejar a interdependência que lhes apraz. É fato que os busco, que fique claro. Devido a sua natureza hedônica permitem-se quebrar tabus inventados por seus servos. Pecam-se em criadagens... aguçam sentidos por seus bigodes, farejando então minha dolência passiva. Sirvo-os, sou servida. E assim tem sido incontinenti, adentrando noites de luares lascivos e cruezas doces.

Dia outro fui pega no cio. Atravessava os corredores da morada dum deles. Fui pega enquanto embasbacava com uma tela. Esta, manchada (encoberta por uma névoa de pó) dando-lhe um aspecto aveludado. Intrigava-me qualquer coisa de misterioso; por trás, naquilo. Torpores.

"meu senhor, já ia até seu leito. faz-se tarde, vou buscar seu leite... perdão."

Ainda que estivesse alerta, nunca escutaria seus passos, mesmo estivesse colado à minha sombra. (Eles) têm veludo embaixo das patas, e um andar sinuoso que impede ao mais arguto ouvido flagrar qualquer assalto. Não, seus passos, jamais.
A denúncia fez-se pelo cheiro; invadiu-me as narinas como jasmim às 2h. De uma lânguidez morna, bruma baixa macia, seu souvenir em aroma.

A penumbra brincava com a sua silhueta, o rabo despontava por entre recortes de luz, da janela que findava o corredor. Tarde demais-pensei. O ondular dos meus cabelos, a abertura dos meus poros, e infinitamente, a inclinação do meu corpo. Fluidos escorriam por debaixo de minhas vestes. 


continua...

quinta-feira, novembro 25, 2010

Escape

Embarca como procurasse o gozo. 
Explosões do fogo-de-santelmo;
Dicotomia de cheiros macios adentrando o Forte.
Ele avisa; sente mais perto.
comem-se inalam-se em transportos...
Exalam...
Como farás, pequeno Libertino? Tu. Ela.
Precisam chegar ao cais.
Segue a luz. lascas.
mais forte agora,
no ritmo de espasmos zumbidos... os remos largados
anunciam a Dança. refletindo no mar como fosse a Lua,
adiante: o Farol.
Ergue a Face pós-horizonte, pintada de fogos-fátuos.
ela transpira mares mais densos que o Oceano navegado,
o Farol pulsa e emerge, como elevasse o gozo.
navegam-se num só corpo de marés, Aurora. ela.
(Ulisses nunca provou da lascívia de teu ventre...)

quarta-feira, novembro 17, 2010

dias que não olho pro céu;
dias que não saio a tomar uma brisa.
li em algum canto que "todos gostamos de
sermos cuidados, e sentirmo-nos limpos por mãos
de outros." é como se entregássemos nosso corpo como
fosse 'algo' a que temos 'algum' apreço. o desafio está em não
sentirmo-nos invadidos... a derme não alcança a alma. a infinitude
dos gestos acalma. um corpo é apenas um corpo. estímulos abrem poros,
depreendem cheiros, hormônios. porém, não alcançam a alma. os gestos ecoam.
até a alma sentir-se limpa. além; leve... com os gestos que devemos ter cuidados, um
quase-medo. tanto podem incrustar a alma de manchas que dificilmente saírão, quanto como
passá-la em rios límpidos,
onde jamais maculará novamente.

post scriptum: la vida secreta de las palabras