terça-feira, novembro 30, 2010

Conto.

Eles têm me cheirado há bocados de tempos... Carregam a demanda nos olhos, como se me fosse naturalmente cedido o suplício de lhes colocar a água de colônia, e o manto sobre suas cestas. Eu, por entre as pálpebras servilmente acolhedoras, devo demonstrar o gozo em que tal resiliência devota me revolve.

Sei que os busco; não nego. Não deveria ser de ordem parasitária esta relação, penso. Além, não se trata apenas de relações de poder. Estes seres podem transformar-se nos animais que desejarem, e manejar a interdependência que lhes apraz. É fato que os busco, que fique claro. Devido a sua natureza hedônica permitem-se quebrar tabus inventados por seus servos. Pecam-se em criadagens... aguçam sentidos por seus bigodes, farejando então minha dolência passiva. Sirvo-os, sou servida. E assim tem sido incontinenti, adentrando noites de luares lascivos e cruezas doces.

Dia outro fui pega no cio. Atravessava os corredores da morada dum deles. Fui pega enquanto embasbacava com uma tela. Esta, manchada (encoberta por uma névoa de pó) dando-lhe um aspecto aveludado. Intrigava-me qualquer coisa de misterioso; por trás, naquilo. Torpores.

"meu senhor, já ia até seu leito. faz-se tarde, vou buscar seu leite... perdão."

Ainda que estivesse alerta, nunca escutaria seus passos, mesmo estivesse colado à minha sombra. (Eles) têm veludo embaixo das patas, e um andar sinuoso que impede ao mais arguto ouvido flagrar qualquer assalto. Não, seus passos, jamais.
A denúncia fez-se pelo cheiro; invadiu-me as narinas como jasmim às 2h. De uma lânguidez morna, bruma baixa macia, seu souvenir em aroma.

A penumbra brincava com a sua silhueta, o rabo despontava por entre recortes de luz, da janela que findava o corredor. Tarde demais-pensei. O ondular dos meus cabelos, a abertura dos meus poros, e infinitamente, a inclinação do meu corpo. Fluidos escorriam por debaixo de minhas vestes. 


continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

co(me)nte-me...